Ryunosuke Akutagawa’s Hell Screen
Baseado no conto clássico do renomado escritor Ryunosuke Akutagawa, “Hell Screen” é uma leitura densa e perturbadora – e essa adaptação em mangá assinada por Mihiro entrega um trabalho digno da obra original, ainda que com algumas ressalvas visuais.
A trama gira em torno de Yoshihide, um artista genial e obcecado, conhecido tanto por sua habilidade quanto por seu temperamento difícil. Ele é rude, ganancioso e está disposto a ultrapassar qualquer limite moral para alcançar a perfeição em sua arte. Quando o poderoso senhor Horikawa o contrata para pintar um biombo retratando os tormentos do inferno, Yoshihide mergulha num processo criativo cada vez mais sombrio — envolvendo tortura, morte e, eventualmente, até sua própria filha, Yuzuki.
O dilema central aqui é brutal: até onde um artista pode ir em nome da arte? A obra aborda esse conflito com intensidade, especialmente na reta final, quando a linha entre criação e destruição desaparece por completo. É arte que cobra um preço — e no caso de Yoshihide, esse preço é literalmente tudo.
A arte de Mihiro é bem-feita, com traços limpos e boa expressividade, especialmente nos contrastes entre personagens como Yuzuki (a pureza) e Yoshihide (a decadência). Porém, para uma história tão obscura e visceral, talvez faltasse um pouco mais de impacto visual — algo que artistas como Junji Ito ou Hideshi Hino provavelmente teriam entregado com mais intensidade gráfica.
Mesmo assim, essa versão cumpre bem seu papel: apresenta a força do texto original para um público novo e faz isso com respeito e fidelidade. A ambientação feudal, a crítica à obsessão artística e a tensão psicológica estão todas ali, bem dosadas.
Se você já leu o conto original, vai se encantar em ver como a narrativa foi transposta para o mangá. Se ainda não conhece a história, essa é uma ótima porta de entrada para o universo de horror literário japonês — ainda mais se você curte temas como loucura, obsessão e a decadência do ser humano diante de seu próprio ego.
