Your Forma Episódio 5: Trauma, biohacking e o impacto de ignorar o volume 1

Embora estejamos diante de um novo arco em Your Forma, o episódio 5 é diretamente ligado aos acontecimentos anteriores — especialmente às consequências emocionais sofridas por Echika. A protagonista, que já havia sido dominada fisicamente duas vezes e usada de forma passiva nos planos da inventora Lexi Carter, agora precisa lidar com os segredos revelados sobre seu parceiro RF Model, Harold — segredos que, ironicamente, ela não pode compartilhar com ele.

Abalada, Echika começa a apresentar sintomas claros de estresse pós-traumático: sono perturbado, dificuldade de concentração e uso de um cartucho de regulação de neurotransmissores (nada confiável, diga-se de passagem), que ela conecta diretamente à sua porta de acesso no pescoço. Uma solução duvidosa que só evidencia o quão instável ela está — alguém, por favor, encaminhe essa garota para terapia.

O dispositivo é fornecido por Bigga, uma biohacker que se descreve como autodidata, mas não transmite muita segurança quanto ao que faz. Quem assiste apenas o anime quase não sabe nada sobre ela — a personagem apareceu brevemente no primeiro episódio e sumiu desde então. Isso reforça uma das maiores falhas da adaptação: a decisão incompreensível de pular o primeiro volume da novel. Resultado? Falta contexto. Faltam conexões. Faltam motivações claras para personagens que, em tese, deveriam já ser familiares ao público.

A ambientação do mundo de Your Forma continua intrigante. A tecnologia do título é descrita como uma “thread” implantada no cérebro — mas o que isso realmente significa? A explicação segue vaga. E para complicar, o episódio introduz os Ludditas, um grupo que rejeita a implantação da tecnologia. Embora haja um charme retrô em regiões inteiras da Inglaterra sem acesso à internet, há também facções extremistas, como o misterioso “E”, que promove o caos online via redes privadas. A crítica social aqui é válida: em nosso mundo, também há quem se recuse a usar smartphones ou internet — e talvez, com bons motivos.

O episódio ainda levanta dúvidas sobre uma rede de tráfico de e-drogas, incluindo um personagem que parece uma versão anime de Walter White. Echika tenta mergulhar na mente de um dos criminosos, mas percebe que sua habilidade de brain-dive foi severamente comprometida. O motivo? Trauma. A explicação tecnológica é confusa, e a solução provavelmente virá com outro pacote de pseudociência futurista. Mas o impacto é direto: Echika é rebaixada de posição, perde acesso aos sistemas e, para piorar, leva café quente na cara durante uma missão comum. E como se não bastasse, assiste seu ex-parceiro Harold ao lado de uma nova parceira… francesa, bela, eficiente e claramente carismática. A vida não está fácil.

A cereja no bolo? Bigga se oferece para fazer um upgrade nos sistemas mentais de Echika com biohacking. Isso certamente não vai dar errado, né?

Your Forma tem um universo promissor, mas parece tropeçar na própria ambição. A falta do arco introdutório mina o desenvolvimento dos personagens e compromete nossa empatia por eles. Echika e Harold poderiam ser um duo fascinante, mas a conexão entre os dois ainda não se sustenta com força. Continuo assistindo mais pela curiosidade com o mundo do que pelos laços emocionais com os personagens.

Como se não bastasse a fragmentação narrativa, a forma como a série é distribuída também causa estranheza. Nos Estados Unidos, o anime só pode ser assistido por meio do serviço de streaming da Samsung — algo que muitos nem sabiam que existia. Já no Reino Unido, os episódios são exibidos via YouTube, mas apenas os três primeiros permanecem disponíveis. A partir do quarto, o acesso vira um mistério. Vai entender.


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