A inteligência artificial está reconfigurando o mercado de trabalho em escala global. Se por um lado há um receio legítimo sobre substituições em massa por máquinas, por outro, novos cargos e oportunidades estão surgindo com velocidade impressionante. Do surgimento do Chief AI Officer até empresas lideradas por ChatGPT como “CEO”, o futuro do trabalho já está sendo redesenhado. E, segundo especialistas, o Brasil lidera essa transformação na América Latina.
IA no comando: de assistente a CEO
João Ferrão dos Santos, um empresário português, chamou atenção ao usar o ChatGPT como seu CEO virtual para criar a AIsthetic Apparel, uma loja de camisetas criada do zero com um investimento inicial de apenas US$ 1.000. Em menos de uma semana, já havia vendido mais de 10 mil euros e conseguido investimentos acima de 100 mil. Tudo com instruções estratégicas vindas diretamente do chatbot da OpenAI. A história viralizou e mostrou, na prática, que a IA não precisa apenas executar — ela pode liderar.
Chief AI Officer: o cargo que cresce em silêncio
A ascensão da IA também criou um novo cargo executivo: o Chief Artificial Intelligence Officer. No Brasil, Marcelo Rinesi ocupa essa função na health tech Axenya e afirma: “Compreender, alavancar e liderar essa transformação é responsabilidade (e oportunidade) de todo Chief AI Officer.” Com 44% das habilidades profissionais prestes a serem transformadas em cinco anos, segundo o Fórum Econômico Mundial, o papel desse executivo passa a ser essencial em empresas que querem se manter relevantes.
A missão do Chief AI Officer é clara: entender como o trabalho funciona, liderar arquiteturas técnicas e antecipar riscos e oportunidades estratégicas. Não é só um papel técnico, mas um ponto de interseção entre tecnologia, estratégia e cultura organizacional.
Substituição de empregos e os limites da IA
A preocupação com o impacto da IA no emprego é legítima. Um relatório do Goldman Sachs estima que até 300 milhões de empregos podem ser transformados ou eliminados nos próximos anos. O CEO da IBM declarou que até 30% dos cargos não voltados para o cliente podem ser ocupados por IA. Empresas como a BT (telecom) e Wendy’s (fast food) já estão automatizando setores inteiros.
Mas nem tudo está perdido: trabalhos criativos e humanos ainda são essenciais. Para Guilherme Silveira, CIO da Alura, a IA deve ser usada para ampliar a capacidade humana, não substituí-la. “Desde que estejamos cientes de suas limitações, podemos utilizar a IA de maneira poderosa”, afirma.
IA nas artes e o debate em Hollywood
Os impactos da IA também chegaram à indústria cultural. Deepfakes com Tom Cruise e Keanu Reeves, trailers de “Harry Potter” no estilo Wes Anderson e rejuvenescimento digital de Harrison Ford em “Indiana Jones” são apenas alguns exemplos. O medo de roteiristas e artistas é real: será que um software pode realmente substituir a vivência humana por trás de uma história? Justine Bateman, cineasta, alerta: “A IA já começou a substituir humanos.”
Dominar o ChatGPT virou diferencial de carreira
Um estudo da ResumeBuilder revelou que 91% das empresas estão contratando pessoas com experiência em ChatGPT. A capacidade de usar IA para gerar conteúdo, automatizar tarefas e ampliar a produtividade virou um trunfo. Em empresas como a Genies, o uso do ChatGPT Plus aumentou a produtividade de 120 funcionários e passou a ser critério de avaliação de desempenho.
Procurando emprego com ajuda da IA
A IA também tem ajudado quem está em busca de uma vaga. Segundo uma pesquisa com mil candidatos, 46% usaram ChatGPT para criar currículos ou cartas de apresentação. Entre eles, 78% conseguiram entrevistas e quase 60% foram contratados. Mas o uso da ferramenta ainda gera polêmica: 11% foram rejeitados ao descobrirem que usaram IA no processo.
Empresas adotam IA… e outras proíbem
O Goldman Sachs usa IA para ajudar desenvolvedores a escrever código. A Bain & Company já integrou ferramentas da OpenAI aos seus sistemas. Mas outras empresas, como Apple, Samsung, JPMorgan e Amazon, proibiram o uso de IA por preocupações com segurança de dados e confidencialidade.
Esse dilema escancara uma nova fronteira corporativa: adotar ou restringir a IA? Para Júnior Bornelli, da StartSe, a resposta é clara: empresas que não abraçarem essa tecnologia correm o risco de se tornarem obsoletas. “A diferença de performance entre quem adota e quem ignora a IA pode ser brutal”, alerta.
Conclusão
A inteligência artificial já não é mais uma promessa futura — ela é o presente do mercado de trabalho. De novas carreiras a CEOs virtuais, passando pela automação de tarefas, decisões estratégicas e debates éticos profundos, a IA redefine o que significa trabalhar, liderar e criar. Em um mundo onde a tecnologia evolui diariamente, o diferencial está em quem sabe usá-la com propósito e consciência.