Trillion Game — Episódios 14 ao 26: Críticas ao Capitalismo com Um Toque de Absurdo

Haru e Gaku queriam construir uma empresa trilionária do zero. Mas à medida que Trillion Game entra na reta final, entre os episódios 14 e 26, o que recebemos é um retrato exagerado do mundo dos negócios, onde o carisma descompensado de Haru desafia qualquer lógica e onde a amizade é constantemente colocada à prova por interesses corporativos. Se a primeira metade do anime já demonstrava uma relação conturbada entre os protagonistas, os eventos mais recentes cravam ainda mais fundo esse dilema, com Haru tomando decisões unilaterais e colocando toda a empresa em risco.

O grande estopim acontece quando Haru investe dois bilhões de ienes em ações de uma empresa de entretenimento sem consultar Gaku, deixando a equipe de desenvolvimento de jogos sem verba alguma. Para Gaku, é como se Haru tivesse menosprezado tudo o que ele construiu. O anime flerta com a ideia de separação dos dois, algo que os flash-forwards vinham sugerindo desde o início, e que Kirihime, uma das rivais, reforça com sua afirmação de que empresas entre amigos não sobrevivem às pressões do mundo real.

Apesar de Haru tecnicamente ser um dos protagonistas, é Gaku quem conduz o desenvolvimento mais humano da história. Haru continua um enigma: não conhecemos seu passado, suas motivações reais nem sequer onde ele mora. Tudo que sabemos é que ele quer enriquecer e domina a arte de manipular. Já Gaku, honesto e ingênuo, passa a aprender a jogar com as cartas de Haru, mas com uma consciência mais ética.

Trillion Game se divide em três grandes arcos neste segundo cour: a criação do jogo gacha, a disputa contra a Dragon Bank e a entrada no setor de notícias e mídia. Em cada um, vemos Haru navegando entre golpes mirabolantes e manipulação emocional, enquanto Gaku — e o público — tenta entender onde termina a estratégia e onde começa a falta de escrúpulos.

Há momentos em que o anime tenta passar uma moral, como ao mostrar as práticas predatórias do mercado de jogos gacha, ao mesmo tempo em que critica a exploração de criadores. Porém, tudo é financiado com o lucro desses mesmos sistemas exploratórios. Parece um tapa com luva de pelica: levanta a questão, mas não aprofunda. A sensação é de que o anime tenta dizer "olha como o capitalismo é cruel", mas segue o caminho mais seguro, se apoiando em clichês como o "CEO canalha que no fundo é um gênio incompreendido".

A ausência de Haru por boa parte dos episódios permite que os coadjuvantes brilhem mais: a designer Sakura, a equilibrada presidente Rinrin e a recém-chegada repórter Akari são bons exemplos de personagens que ganham mais camadas. Já Gaku, aos poucos, conquista espaço e se transforma em um líder capaz de tomar decisões ousadas, mesmo ainda sentindo o peso de ser “o mais humano da dupla”.

Visualmente, Trillion Game continua irregular. Os designs do mangá de Ryōichi Ikegami são estilizados, mas na animação da Madhouse perdem bastante impacto. Os momentos de CG são toscos, principalmente nas cenas de multidão. Em termos musicais, a trilha sonora parece retirada de um filme antigo de assalto, com uma mistura de urgência e humor que raramente casa com o tom das cenas. O resultado é um anime que nunca parece levar a si mesmo muito a sério, o que pode ser bom — ou frustrante, dependendo do que você esperava.

No fim, a segunda metade de Trillion Game é mais coerente com sua proposta de entretenimento caótico do que a primeira. Continua sendo uma série que evita aprofundar qualquer reflexão real sobre o mundo corporativo ou o impacto humano de suas decisões, preferindo o caminho das reviravoltas absurdas e do carisma duvidoso de Haru. É divertida? Sim. É provocativa? Nem tanto. Mas ao menos nos entrega uma jornada onde o "peixe fora d'água" Gaku encontra sua voz — ainda que cercado por tubarões.

Nota Final: 7.0/10

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