Lost in Starlight marca a chegada internacional de Han Ji-won ao catálogo da Netflix com uma animação que mistura romance, ficção científica e emoção genuína. Depois do sucesso local de The Summer (2023), sua estreia internacional aposta em uma história mais ambiciosa e sensível. Aqui, acompanhamos a trajetória de Nan-young Joo, uma jovem brilhante determinada a seguir os passos da mãe astronauta, perdida na missão a Marte décadas antes. Quando falha num teste psicológico, é descartada da nova expedição e retorna à Coreia — até que um novo encontro muda tudo.
Esse encontro é com Jay, um técnico de equipamentos de áudio e músico amador. A relação entre os dois nasce de um acidente e floresce lentamente em meio à convivência, troca de sonhos e um cotidiano recheado de emoções reprimidas. A história evolui com delicadeza, nos levando de um cenário quase contemplativo até um clímax intenso em Marte, repleto de tensão e dramaticidade.
O futuro retratado pela animação é realista e funcional: prédios de vidro reluzentes se mesclam com construções antigas, e a tecnologia aparece em detalhes sutis como projeções holográficas e interfaces em realidade aumentada. Nada é exagerado. Tudo serve à ambientação, criando um mundo que é palpável e esteticamente encantador. O design visual é um espetáculo à parte, com paletas de cores vibrantes, parques verdes e céus estrelados que remetem ao melhor de Makoto Shinkai, mas com personalidade própria.
Um dos grandes trunfos do filme está na química entre os protagonistas. Kim Tae-ri (The Handmaiden) e Nong Kyung (Weak Hero) dão voz a Nan-young e Jay, e mesmo sendo novatos em dublagem, entregam atuações calorosas e naturais. A relação que nasce entre seus personagens é doce, realista e cheia de nuances. Mais do que romance, há cumplicidade e amadurecimento mútuo.
A trilha sonora é outro destaque absoluto. Além de faixas emocionantes, há músicas originais cantadas pelos próprios dubladores, com letras escritas em colaboração com a diretora. Jay, apesar de tímido, carrega consigo um talento adormecido, e o incentivo de Nan-young o leva a reencontrar os antigos colegas de banda. A música conecta os dois e se torna uma âncora emocional até mesmo nos momentos mais difíceis — incluindo uma sequência psicodélica em que Nan-young alucina dançando sobre um disco de vinil.
A virada tonal acontece a partir da inevitável separação do casal, quando Nan-young é finalmente chamada para integrar a missão a Marte. A partir daí, o filme cresce em intensidade emocional, com um dos momentos mais tocantes sendo a conversa holográfica entre os dois em uma estufa giratória. Quando a protagonista finalmente alcança o planeta vermelho, o longa mergulha em clima de filme-catástrofe, com cenas angustiantes e de tirar o fôlego.
Embora haja alguns tropeços, como transições ligeiramente forçadas entre cenas de Jay e Nan-young nos atos finais e uma resolução talvez conveniente demais, nada disso compromete o impacto geral. A tensão é real, o drama é honesto e a beleza visual é constante. Com seu estilo híbrido entre anime e animação coreana, Lost in Starlight se destaca como uma joia do gênero — não importa se você a chama de anime ou não.
Nota Final
Nota geral: 9,0/10
História: 9,0
Animação: 9,0
Arte: 10,0
Música: 10,0
Prós: Visual deslumbrante, personagens cativantes, ótima trilha sonora, abordagem sensível de temas como sonhos, luto e superação.
Contras: Algumas transições narrativas abruptas, momentos de CG engasgado, e início com ausência inesperada de legendas nas falas em inglês.