Trigun Stargaze mira as estrelas: análise dos episódios 1 e 2

Love and Peace!” — o icônico grito ecoou no painel de Trigun Stargaze durante a New York Comic Con, lotado de cosplayers de Vash the Stampede. O evento, organizado pela Crunchyroll, apresentou os dois primeiros episódios do novo anime e contou com a presença do mangaká Yasuhiro Nightow, que refletiu sobre o carinho dos fãs: “Com Stampede, percebi o quanto as pessoas amam Vash… cada versão dele representa um amor diferente, mas igualmente sincero.”

Essa reinterpretação se estende também aos demais personagens, reforçando que Stargaze é mais do que uma continuação — é uma nova leitura do universo de Trigun, agora sob a direção de Masako Sato, com história original de Takehiko Oxi.

O peso de Vash e o legado de Stampede

O “Tufão Humanoide” carrega o trauma da destruição da metrópole JuLai, devastada pelo confronto entre ele e seu irmão, Millions Knives (Junya Ikeda). A luta culminou na morte de Knives e deixou Vash afundado em culpa e exaustão emocional. Embora o Studio Orange mantenha a competência visual, o 3D ainda causa estranhamento para quem cresceu com o traço orgânico da série de 1998 do Studio Madhouse. Os modelos humanos, mesmo detalhados, carecem da expressividade marcante da versão clássica — um contraste especialmente perceptível nas sequências mais íntimas.

Ainda assim, o estúdio compensa com paisagens deslumbrantes — desertos banhados por uma lua estilhaçada, lembrando as cicatrizes da guerra — e um ritmo que equilibra melancolia e ação.

O retorno de Meryl e Milly

O primeiro episódio de Stargaze funciona como um prólogo reflexivo. Meryl Stryfe (Sakura Andō), agora uma jornalista madura, levanta a questão central: “Como humanos e Plants podem coexistir, se os Plants sempre foram explorados?” Sua nova parceira é Milly Thompson (Chika Ayamori), uma adição aguardada pelos fãs. Milly retorna como o contraponto espirituoso de Meryl, com direito a um momento cômico envolvendo um banana split — embora sem seu clássico sobretudo, um detalhe que muitos fãs sentirão falta.

Episódio 2: a melancolia de Vash e o renascimento da empatia

O segundo episódio eleva o nível e mergulha em temas existenciais. Após os eventos de JuLai, Vash sobrevive, mas sem memória — agora chamado de Eriks — e passa os dias tocando repetidamente uma única tecla de piano, num estado de luto mecânico. Sua deterioração física e emocional é retratada com delicadeza, e o episódio desloca o ponto de vista para seu misterioso cuidador, figura vinda do mangá e do anime original.

A relação entre Vash e esse cuidador se torna o núcleo dramático do episódio. À primeira vista, ele parece gentil, mas suas intenções revelam camadas de rancor, dor e ambiguidade moral. Em poucos minutos, o espectador percebe que a bondade pode ser apenas uma máscara — e que a vingança pode coexistir com a compaixão. A atuação sutil e o silêncio entre olhares carregam mais peso do que qualquer discurso.

Entre culpa, redenção e amor distorcido

O episódio apresenta um momento impactante, embora peque por reduzir uma personagem com deficiência a um símbolo, sem espaço para sua interioridade. Ainda assim, a construção emocional é poderosa. A linha final do cuidador ecoa como uma síntese da filosofia de Trigun: “Amor e paz” podem coexistir com sofrimento e contradição. E talvez seja justamente essa contradição que torne Vash tão humano.

Conclusão

Com Stargaze, o universo de Yasuhiro Nightow se reinventa mais uma vez. Os dois primeiros episódios não apenas ampliam as questões morais de Stampede, como também aprofundam o peso espiritual que define Trigun desde 1998. Entre o perdão e a destruição, entre o humano e o divino, Vash continua correndo pelo deserto em busca de uma resposta — ou talvez, apenas de um motivo para continuar acreditando em “amor e paz”.

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