The Legend of Kamui Volume 1: Um Mangá Brutal Sobre Opressão e Resistência

The Legend of Kamui – Volume 1

Ambientado no período Edo do Japão, The Legend of Kamui nos apresenta um retrato cru da desigualdade entre camadas sociais. Enquanto samurais vivem com poder e privilégio, camponeses e genin — considerados párias — enfrentam violência, miséria e preconceito. O primeiro volume da obra de Sanpei Shirato, lançada originalmente na revista Garo, é um mergulho sombrio e contundente em tempos em que a opressão era regra e a empatia, um luxo.

Desde as primeiras páginas, acompanhamos as provações cotidianas de uma família de agricultores e seus auxiliares genin. Quando um acidente mata o cavalo de tração da família, a tragédia social é imediata: por lei, agricultores sem gado são obrigados a se separar. A filha é vendida como serva, enquanto os homens precisam enterrar o animal — e ainda são insultados publicamente por sua condição social. A cena é devastadora, marcada por gritos de "animais" e "imundos", refletindo o preconceito sistematizado contra os marginalizados.

Com tradução pela Drawn & Quarterly, o mangá finalmente chega ao ocidente com uma edição cuidadosa. A narrativa de Shirato é carregada de crítica política e reflexos autobiográficos — ele mesmo filho de um artista perseguido por suas crenças proletárias. Essas influências se misturam ao enredo de forma orgânica, tornando Kamui um manifesto visual e literário.

Apesar do título, o personagem Kamui demora a aparecer e sequer é o protagonista tradicional. Ele divide espaço com outros genin como Shosuke e o aspirante a guerreiro Ryunoshin, compondo um retrato coletivo da luta por dignidade. O foco é menos em ação e mais em tensão social, funcionando mais como um drama histórico do que um mangá de aventura.

Artisticamente, Shirato entrega um trabalho excepcional. A sequência envolvendo um filhote de lobo tentando sobreviver ao ataque de um falcão é um dos trechos mais impactantes — sem texto, apenas traço, contraste e desespero. Mesmo com décadas desde sua publicação, a arte continua poderosa, crua e atemporal.

Kamui não é uma leitura fácil. O mangá é gráfico, violento e emocionalmente pesado. Crucificações, assassinatos brutais e humilhações públicas se sucedem, não como choque gratuito, mas como denúncia. E, infelizmente, esse grito por justiça ainda ecoa hoje — em tempos de autoritarismo crescente, a mensagem de Shirato sobre desigualdade e resistência permanece atual como nunca.


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Notas

  • Nota Final: 10
  • História: 10
  • Arte: 9
  • Pontos Positivos: Narrativa envolvente e crítica, arte impactante que continua atual, temática política e social altamente relevante.
  • Ponto Negativo: Violência gráfica detalhada e cenas cruéis podem incomodar leitores sensíveis.
  • Atenção: Contém violência explícita, crueldade contra animais e abuso físico.
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