A Wild Last Boss Appeared! Volume 1 – Resenha Crítica da Light Novel

A maior surpresa de A Wild Last Boss Appeared! talvez seja o fato de ela ter vencido um prêmio literário importante no Japão. O próprio autor, Firehead, confessa no posfácio que jamais imaginou que sua história publicada em site amador ganharia versão impressa, mangá e anime. E, honestamente? Também fiquei surpreso. Em um mercado tão competitivo, é impressionante como certas obras recebem destaque enquanto outras, mais lapidadas, passam despercebidas.

A premissa tem apelo: um jogador de MMO renasce como seu próprio personagem overpowered — Lufas, uma “última chefe” temida — no mundo de Exgate Online, 200 anos após sua última sessão no jogo. No entanto, a execução falha em muitos pontos. O protagonista aceita entrar nesse universo com um simples “por que não?”, e de repente, já está no corpo feminino da poderosa Lufas, sem muito desenvolvimento ou conexão emocional.

Ao longo do volume, Lufas insiste que ainda é “espiritualmente um homem”, mas não há verdadeira exploração de identidade de gênero ou qualquer aprofundamento sobre a dissonância entre corpo e mente. Há frases desconcertantes como “parece que estou faltando algo entre as pernas”, e uma abordagem incômoda sobre aparência, sexualidade e beleza. O pior? O livro frequentemente expressa uma visão distorcida e rancorosa sobre mulheres, com comentários que soam machistas e ressentidos.

A companheira de viagem de Lufas, Dina, é uma NPC que foi criada como mob decorativo, mas agora ganhou vida e sentimentos. Ela atua como guia enquanto Lufas esmaga tudo com seu nível 1000. Sim, o livro se perde em páginas e páginas de estatísticas, fórmulas e descrições técnicas, que lembram mais um manual de RPG do que uma história fluida. A leitura se torna cansativa, com tabelas inúteis e narração interrompida para mostrar como a barra de HP aumentou após comer pedaços de carne de orc (!).

Ainda assim, há elementos criativos. A cidade estilo Veneza com canais mágicos e uma linha de monotrilho é visualmente encantadora. A ideia de uma elemental de água gigante protegendo o local também é interessante. Mas, em geral, o universo recorre a criaturas genéricas como orcs, elfos e reis demoníacos. A história de Lufas — a vilã injustiçada que agora quer salvar o mundo — já foi contada muitas vezes, e aqui ela não ganha frescor suficiente.

No quesito tradução, outra decepção. Kevin Chen, que fez ótimos trabalhos em outras séries, entrega aqui um texto estranho, com frases passivas, repetições esquisitas e construções desconexas (“a relação dos elementos era realmente grande”?). Há até tópicos no Reddit sugerindo que o livro foi traduzido por IA — o que não ocorreu. Provavelmente, o original já era mal escrito, e a tradução optou por ser fiel demais, sacrificando a fluidez.

A Wild Last Boss Appeared! tem lampejos criativos e um conceito com potencial, mas falha em praticamente tudo: narrativa rasa, personagens problemáticos e estilo maçante. A ausência de reflexão mais profunda sobre gênero, aliada a um humor forçado e estereotipado, torna a leitura desconfortável. Uma pena.

Nota final:

  • Geral: 4/10
  • História: 4/10
  • Tradução e estilo: 3/10
  • Aspectos positivos: Algumas ideias visuais e elementos de worldbuilding criativos.
  • Aspectos negativos: Representações enviesadas sobre gênero e mulheres, narrativa truncada, excesso de estatísticas e uma tradução que não suaviza os defeitos do original.

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