To Be Hero X – Episódio 8: Cyan, Poder e Prisão

Uma das coisas que mais gosto em To Be Hero X é como a série sobrepõe camadas de narrativa e construção de mundo. Por fora, temos a história de uma garota com talento sobrenatural explorada por praticamente todos os adultos ao seu redor — com exceção de um: o repórter que a encontra após o acidente de avião. Embora seus dons sejam especiais, a maneira como ela é tratada infelizmente é bem real, remetendo diretamente ao que ocorre com crianças celebridades, sejam atletas, atores ou cantores, forçadas a sacrificar a infância para atender às ambições de seus pais.

Cyan se vê no centro de um culto. Ela não é vista como uma pessoa, mas como uma figura simbólica. Seus desejos são ignorados. Ela não pode ter vontades próprias nem hobbies. Precisa representar o papel de mártir e símbolo de felicidade para os outros — sem jamais receber qualquer pedaço dela em troca.

Seu único amigo é o oposto desse mundo: um garoto rejeitado pelos adultos, tratado com desconfiança. Justamente por isso, ele é livre. Pode ser quem quiser, não precisa se prender às regras ou dogmas do culto que se forma ao redor de Cyan. Ele a vê como ela é: uma criança solitária e normal.

Como todo adolescente, Cyan testa seus limites. Suas pequenas rebeldias — cantar uma música pop em vez do hino sagrado ou tentar matar aula por um dia — são inofensivas. Mas seu "pai" não pode permitir isso. A popularidade dela o fortalece, e, por isso, ele não pode deixá-la escapar nem por um instante. Nem quebrar a imagem que construiu dela. E, o mais perturbador: ele ainda se vê como herói, mesmo depois de escravizar uma criança. Estamos diante de um dilema ao estilo “Os Que Se Afastam de Omelas” — só que, aqui, ninguém se afasta.

Do outro lado, temos a construção de mundo. Com Lin Ling e Yang Cheng, aprendemos que os superpoderes nesse universo derivam de popularidade — quanto mais pessoas acreditam em você, mais forte você se torna. Mas Cyan quebra essa lógica. Ela não apenas sobrevive como órfã sob nome falso, tida como morta após um acidente. Ela prospera. Sua sorte é sobrenatural — e perfeita. Não falha.

E essa “sorte” vai além da aleatoriedade. Ela encontra amigos ideais, acerta lançamentos improváveis, tudo de forma instintiva. Não depende de aprovação popular. Mesmo com mais de 10 mil seguidores, Cyan não sofre as distorções que outros heróis enfrentam. Ela pode tirar a máscara, cantar outra música, quebrar o personagem… e continua livre. Nenhuma força sobrenatural a pressiona como vimos com Lin Ling. Seu poder é algo único, natural — e, por isso mesmo, perigoso para os que desejam controlá-la.

Ela possui algo raro: livre-arbítrio. Cyan é poderosa, não por ser idolatrada, mas por ser ela mesma. E essa liberdade é o que mais incomoda os adultos à sua volta, que a aprisionam em nome de um suposto bem coletivo. Sua primeira tentativa de fuga falha, mas tudo indica, a julgar pelas trajetórias de Lin Ling e Yang Cheng, que ela ainda encontrará o próprio caminho. E que será um caminho apenas dela.

Observações soltas:

  • O arco da Cyan usou animação 2D. Será que foi uma escolha artística ou uma questão prática?
  • O nome real do Calamity é “Luo”, mostrado nos documentos do orfanato.
  • Onde estavam os outros heróis quando o avião caiu? Rivalidade? Descaso? Foco em PR? Talvez um pouco de tudo.
  • A filha do repórter é a Queen — heroína número dois na era da Lin Ling. Provavelmente foi moldada para despertar confiança e medo em igual medida. Isso certamente não vai acabar bem.

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