Anne Shirley – Episódio 8: Amadurecimento e Triunfo em White Sands

Está confirmado — em vez de pular capítulos, o Incidente com Matthew no episódio anterior foi uma adição do anime, mostrando algo que no livro original era apenas mencionado. É uma das poucas decisões da adaptação com as quais discordei abertamente (comentei algumas outras na semana passada, então não vou repetir aqui). E essa escolha foi seguida por outra, que acredito estar mais ligada a diferenças culturais do que à adaptação em si. Talvez até seja um tipo de “distinção” para a série, ainda que improvável: o episódio oito tem, sem dúvida, a recitação mais insana do poema “The Frog”, de Hilaire Belloc, que já vi. A composição já é naturalmente cômica, mas os sons de sapo exagerados e a entonação over não combinam com o que se espera — ainda que, talvez, seja um reflexo do estilo dos antigos teatros de variedades da era vitoriana. (Mesmo que essa apresentação em si não se encaixe nesse contexto.)

O que importa é que Anne se apresentar em White Sands é um grande triunfo. Nem mesmo Gilbert foi convidado, e ele empatou com ela em primeiro lugar nos exames da Queen’s! Ainda mais impressionante é que ela divide o palco com uma elocucionista profissional, Mrs. Evans, que recita um poema mais tradicional: “The Flower that Smiles To-Day”, de Percy Bysshe Shelley. Anne escolhe inicialmente “The Maiden’s Vow”, de Carolina Oliphant — uma canção com origem em um dialeto escocês, o que a torna um desafio extra para ser interpretada. Mas é uma escolha que revela o quanto seu espírito romântico continua vivo. Aos quinze anos, Anne está mais comedida do que aos onze, usa menos palavras rebuscadas no cotidiano, mas ainda assim opta por um poema dramático e apaixonado — que, aliás, pode não ser uma coincidência total por ser sobre uma donzela jurando nunca se casar. (Gilbert, é claro, não percebe nenhuma alfinetada. Está simplesmente feliz por vê-la brilhar.)

Este episódio é, essencialmente, sobre o amadurecimento de Anne. Os sinais estão em detalhes visuais e comportamentais: ela não usa mais avental sobre o vestido, começa a colocar o cabelo preso, e seu olhar sobre o futuro é mais reflexivo do que fantasioso. O cabelo preso e a ausência de babados são marcas visuais de que ela está se tornando uma mulher. Gilbert, por sua vez, já veste calças compridas — outro marco simbólico. Curiosamente, a roupa de Anne para a apresentação é antiquada comparada às demais: saia volumosa, mangas longas e gola alta remetem mais à década de 1860 do que à moda dos anos 1880. As garotas petulantes ao seu lado no palco não deixam passar essa chance de provocação — provavelmente a trataram como uma “caipira” de propósito, talvez até pior do que a própria Josie Pye.

Apesar das críticas sutis, tudo está indo bem para Anne neste momento da história. Ela foi a primeira colocada nos exames da Queen’s, teve uma performance de sucesso e está segura de sua identidade como “apenas Anne”, com seus cabelos vermelhos e alma sonhadora. Estamos nos aproximando do fim da adaptação de Anne of Green Gables, o que indica que metade da série terá sido dedicada a esse primeiro volume, enquanto os livros seguintes — Anne of Avonlea e Anne of the Island — terão bem menos espaço. Mas como o primeiro livro é meu favorito, não posso reclamar… mesmo que isso me faça temer que o ritmo da adaptação acelere ainda mais nos episódios finais.

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