Animes nem sempre são conhecidos por retratar famílias funcionais, mas The Too-Perfect Saint consegue se destacar mesmo dentro desse padrão. Os Adenauer não são apenas disfuncionais — são disfuncionais em múltiplas gerações. A avó favoreceu a filha em detrimento do filho, que cresceu com ciúmes doentios, destruiu a reputação da irmã e depois sequestrou sua filha. E então abusou dela — com a “ajuda” de Hildegarde, que se achava no direito de maltratar a garota em nome da sobrevivência. Agora que Philia, claramente a garota em questão, conseguiu escapar das garras da família, Hildegarde quer adotar Mia. Não apenas por proteção, mas como uma forma bem direta de se vingar do irmão.
Apesar das boas intenções aparentes, a situação continua longe de ser ideal. Felizmente, Mia e Philia se dão bem — talvez o único raio de luz nessa teia de rancores e traumas. Se eu fosse Mia, sinceramente, já teria feito as malas e ido para Parnacorta deixar Girtonia apodrecer por conta própria.
Entre justiça e legado
Mas Mia não é do tipo que abandona seu povo. Mesmo cercada por nobres e membros da realeza que não valem o ar que respiram, ela ainda acredita que pode fazer algo de bom. Talvez se Hildegarde tivesse contado tudo antes de Fernand mostrar coragem, ela poderia ter ido embora. Mas ao ver o príncipe mais velho enfrentar Julius na reunião do conselho, Mia recupera um pouco da fé — e entende que está seguindo os passos de Philia.
A quebra da barreira de Philia poderia ser o fim do sonho. Mia sabe que não é tão poderosa quanto sua predecessora. Mas ver Fernand superar o medo e agir prova que ela está fazendo a diferença. Philia continua a fortalecê-la, mesmo à distância.
Cicatrizes invisíveis
Philia talvez nem perceba o quanto está inspirando Mia. Ela própria ainda carrega as cicatrizes de uma vida onde foi tratada como um fardo. Quando Emily, irmã de Grace, olha com desconfiança para seus manuais detalhados, Philia se retrai. Mesmo tendo consciência de seu poder, ela ainda hesita em acreditar em seu próprio valor. Felizmente, há pessoas como Grace, Amanda e Jane por perto — e até Erza, apesar de desconfortável com sua presença, reconhece sua força.
Philia está aprendendo aos poucos que merece ser reconhecida. Talvez não chegue ao final da temporada plenamente curada, mas com Mia, Osvalt e Lena ao seu lado, seu progresso é visível. E se as irmãs Adenauer — porque sim, Philia e Mia são irmãs de verdade, não importa os laços de sangue — conseguirem escapar desse ciclo de dor, já teremos um final digno.