They Were Eleven – Mangá Sci-Fi Quebrando Barreiras Desde os Anos 70

Lançado originalmente entre 1976 e 1977, They Were Eleven é um marco do mangá shoujo com ambientação sci-fi e assinatura da renomada Moto Hagio, uma das criadoras mais influentes do chamado Year 24 Group. A obra foi finalmente relançada de forma completa pela editora Denpa, incluindo sua segunda parte, Horizon of the East, Eternity of the West, nunca antes publicada integralmente em inglês. E sim: trata-se de uma leitura obrigatória para qualquer fã de mangá que respeita o passado e quer entender o poder da mídia como forma literária.

Sinopse

Dez estudantes de diferentes planetas e raças são colocados dentro de uma nave espacial abandonada como parte da última prova para entrar na prestigiada Cosmos Academy. O desafio: sobreviver juntos por cinquenta e três dias. Mas ao entrarem na nave, percebem algo muito errado — há onze pessoas a bordo. Quem é o intruso? E o que isso significa para o futuro de todos?

Uma ficção científica sobre medo, preconceito e amadurecimento

A beleza de They Were Eleven não está apenas em seus traços, mas também na forma como Hagio transforma um enredo simples em uma alegoria poderosa sobre preconceito, identidade, autonomia e a complexidade dos vínculos humanos. Se a primeira parte é sobre adolescentes tentando vencer seus medos e desconfianças, a segunda — Horizon of the East, Eternity of the West — contrapõe essa inocência ao mundo adulto, que falha onde os jovens foram bem-sucedidos.

A obra propõe uma reflexão importante: o preconceito é aprendido. O sistema da Cosmos Academy, que coloca jovens de diferentes origens para cooperar sob pressão, seria a resposta para um futuro de compreensão mútua. Já o mundo adulto, impregnado por velhos traumas e discriminações, demonstra-se incapaz de evoluir. É um contraste sutil, mas muito poderoso.

Gênero, cultura e identidade

Hagio explora gênero com coragem e complexidade, especialmente por se tratar de uma obra publicada nos anos 70. Frol, um dos personagens centrais, é intersexo (chamado na obra de “gynandrite”) e foi criado em uma sociedade que impõe às mulheres o casamento forçado e a maternidade. Desejando escapar desse destino, Frol afirma querer ser homem — mas o dilema se intensifica quando começa a se apaixonar por Tada, outro membro da tripulação.

Enquanto isso, Knume, outro personagem intersexo, vive em uma cultura que aceita essa identidade como permanente. A construção dos personagens mostra não só os efeitos da cultura sobre o gênero, mas também a luta para se afirmar diante das expectativas impostas.

Nova edição à altura da obra

A nova tradução de Ajani Oloye moderniza alguns termos e traz pronome neutro para Frol, o que pode causar certa estranheza a leitores mais conservadores, mas dialoga com a proposta original da autora. A edição da Denpa vem em formato maior, com páginas coloridas, galeria de arte, papel de alta gramatura e excelente acabamento — tudo por um preço justo, bem mais acessível que outras edições especiais da autora.

Há pequenos deslizes (dois erros de digitação foram encontrados, como “pirate” no lugar de “pilot”), mas nada que comprometa a experiência. Pelo contrário: o relançamento é uma oportunidade de ouro para conhecer — ou revisitar — um clássico essencial da ficção científica japonesa.

Conclusão

They Were Eleven é uma obra que envelheceu com elegância. Moto Hagio utiliza o sci-fi como ferramenta para discutir temas universais como identidade, pertencimento, estrutura social e preconceito. Com uma nova edição impecável e atualizada, o mangá mostra que pode — e deve — ser lido como literatura de alto nível. Uma história visualmente rica, emocionalmente densa e intelectualmente instigante.

Nota:

  • Nota Final: 10/10
  • História: 10/10
  • Arte: 10/10

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