“Há uma espécie de magia nas máscaras”, escreveu Terry Pratchett em Maskerade. “Máscaras escondem um rosto, mas revelam outro.” E mesmo que sua sátira de O Fantasma da Ópera não tenha nenhuma relação direta com Maomao, essa frase ecoa de forma poderosa neste episódio de The Apothecary Diaries. Neste arco, quase todos estão usando algum tipo de máscara – e é justamente agora que essas máscaras começam a cair… ou, no caso de Loulan, a serem recolocadas.
Loulan ou Shisui?
Descobrimos que a própria identidade de Loulan é uma máscara. A figura que conhecemos era, na verdade, uma construção mantida por suas damas de companhia para que a verdadeira Loulan – Shisui – pudesse escapar. Ao se apresentar como “Loulan”, Shisui pôde viver como a garota alegre, curiosa e apaixonada por insetos que sua mãe, Shenmei, tentou reprimir com todas as forças. É possível enxergar Loulan como o disfarce forçado, e Shisui como a pessoa real. Ou o oposto. Talvez nem mesmo ela saiba onde começa uma e termina a outra. Mas o fato é que sua mãe a obrigou a se dividir em duas para sobreviver – um clássico caso de sobrevivência emocional que revela o quão profundo o trauma do palácio pode ir.
Shenmei e a máscara da juventude
Shenmei, por sua vez, usa a maquiagem como uma máscara literal – uma tentativa desesperada de se parecer com a filha e camuflar os sinais do tempo. A comparação com uma máscara de ópera não é gratuita: Shenmei tenta esconder sua verdadeira idade da mesma forma que o antigo imperador escondeu seus abusos por trás do esplendor do palácio. A maquiagem aqui funciona como arma e símbolo, remetendo ao comentário anterior de Jinshi sobre como a maquiagem transforma o rosto de Maomao.
A grande ironia é que Shenmei foi uma das “sortudas” que conseguiu sair do Palácio dos Fundos – mas o que ela vivenciou lá a quebrou de tal maneira que seu retorno para casa foi apenas físico. Sua mente permaneceu presa, cristalizada no trauma, tentando perpetuar sua juventude e controlar a filha com a mesma rigidez que sofreu.
O legado sombrio do imperador anterior
As atitudes de Shenmei e de Shishou refletem o rastro de destruição emocional deixado pelo antigo imperador. Mulheres moldadas pela dor se tornam novas fontes de sofrimento. A naturalidade com que Loulan fala dos castigos impostos por sua mãe mostra como esse ciclo de abuso se normalizou. E assim, ela escondeu sua verdadeira essência atrás da impassível “Loulan” como forma de proteção.
Esse contexto dá novo peso ao ritual das máscaras no vilarejo das águas termais. As máscaras queimadas e lançadas ao céu representam desejos de fuga – especialmente da manipulação do clã Shi, cujas maquinações ameaçam até os recém-nascidos. Já as máscaras que afundam simbolizam os que permanecem presos sob o peso de sistemas e líderes que moldam o destino de todos.
Quem está sem máscara?
Curiosamente, os únicos personagens que parecem não estar usando máscaras neste arco são a família de Maomao. Luomen, apesar da personalidade pacata, não finge ser o que não é. Lakan pode ser mais reservado, mas é direto. Maomao continua autêntica e instintiva. São justamente eles que encaram Jinshi e dizem, em termos simbólicos: “Está na hora de tirar sua máscara.” Se ele quiser deter o clã Shi e proteger Maomao, terá que fazê-lo como Ka Zuigetsu, e não mais como “Jinshi”.
Conclusão
Este episódio de The Apothecary Diaries mergulha com elegância em metáforas poderosas. As máscaras sociais, emocionais e políticas são retiradas com cuidado, revelando traumas e motivações escondidas. A série atinge aqui um de seus pontos mais simbólicos e profundos, reforçando o quanto é preciso coragem para deixar a verdade vir à tona – mesmo quando ela é dolorosa. Para Jinshi e todos os envolvidos, chegou a hora de decidir qual face mostrar ao mundo.