Um embate que vai muito além de títulos
Este segundo episódio centrado em Queen até engana: é ela quem nos guia pela trama, mas a alma da história pertence a Bowa. Acompanhamos a frustração de Queen por não ter conquistado o título de X, testemunhamos sua luta colérica contra Bowa e sentimos o baque ao perceber que perdeu a chance de desafiar Hero X outra vez. Também entendemos como a amizade com Cyan e Little Johnny moldou a heroína — mesmo que não a torne melhor que Bowa. Porém, no fim, é o arco de Bowa que reverbera.
Bowa construiu cada degrau da própria lenda. Ela poderia ter ficado milionária como lutadora profissional, mas escolheu usar a força primeiro ajudando heróis, depois tornando-se uma. Mesmo entre o Top 10, batalhou por reconhecimento — reconhecimento que só chegou quando Queen incendiou o imaginário popular. Bowa até alcançou o topo, mas todos — fãs, imprensa, sua própria agência — a viam como interina de Queen. Decidiu então silenciar o coro de céticos derrotando Queen no torneio… e nunca teve a chance.
O alvo da raiva — e o medo escondido
Curioso notar em quem Bowa escolhe despejar culpa: Queen, Cyan, a DOS, o pai jornalista de Queen. Todo o rancor canalizado em derrubar Queen. Dois anos fermentando ódio, caindo do Top 10, jurando revanche. E alguém quase não citado? Hero X, o verdadeiro destronador. À primeira vista, Bowa crê que a “sorte” de Cyan fez Hero X vencer, mas há mais. Seus novos poderes nasceram do medo; medo de não ser boa o bastante. Focar em Queen é estratégia: se derrotar a garota, prova (para si mesma) que merecia o topo. Já Hero X? Ele a superou num estalar de dedos — pensar nele ameaça sua autoconfiança.
O brilhante — e trágico — em Bowa é que ela não está totalmente errada. Com o suporte que Queen recebe, talvez fosse vista não como substituta, mas como a heroína. Sua força mental é tamanha que, diferente de outros vilões movidos por medo, ela domina o poder em vez de ser devorada. Não vira monstro algum; usa golpes calculados, vence no cérebro tanto quanto no braço. Quando entende que, mesmo derrotando Queen, jamais será X, prefere recuar a lutar até a morte. Poucos antagonistas exibem tanta lucidez.
Construção de mundo: o duelo que define o topo
A pancadaria entre Queen e Bowa mostra o que seria a disputa pelo posto de maior heroína num mundo sem Hero X. É um espetáculo muito acima dos confrontos de Lin Ling ou Cyan. Mesmo a batalha dos E-Souls parece treino leve em comparação. Se Lin Ling, E-Soul e a própria Cyan quiserem chegar ao título de X, precisam superar esse nível — e, francamente, parecem distantes disso. Pior: existe um homem que humilha Queen e Bowa com um golpe só. Até agora, ninguém apresentado parece pronto para destroná-lo.
Pensamentos aleatórios
- Não duvido que toda a situação de Bowa seja um experimento do presidente da DOS e do pai de Queen para comparar o poder do Trust com o do Fear.
- O dossiê da DOS sobre Hero X é intrigante: ele não compactua com Uncle Rock (boa notícia) e já enfrentou Wreck. Suspeita-se que trabalhe com o Rebellious Hero Nine e que tenha ligação com uma mulher desconhecida, super-humana em todos os atributos, cujo poder se chama “Multiple”.
- O cliffhanger funciona melhor se você acompanha os extras da série: só assim reconhece a fera enlouquecida do último quadro e entende o impacto pessoal que ela tem sobre Cyan e Queen.
- Provavelmente Queen caiu para Rank 10 após abandonar o torneio por lesão. Nos dois anos seguintes, subiu até o Rank 2 apenas com atos heroicos. Nada mau.