Se não fosse pelo enorme mecha no centro das atenções, poderíamos dizer que a primavera de 2025 foi tranquila. Mobile Suit Gundam GQuuuuuuX virou assunto obrigatório semana após semana, unindo os roteiros de Hideaki Anno (Evangelion, Shin Godzilla) e Yōji Enokido (Utena) sob a direção vibrante de Kazuya Tsurumaki (FLCL). Enquanto todos olhavam para os novos rumos de Gundam, The Apothecary Diaries expôs traumas multigeracionais que vinham fermentando desde sua temporada de estreia. Houve drama de sobra, mas, escondidas entre os pesos-pesados, brilharam joias como Rock is a Lady's Modesty, a adaptação de Anne Shirley feita pela Answer Studio e as reflexões cômicas de Apocalypse Hotel.
A seguir, apresento o ranking pessoal — e muito debatido — da nossa equipe editorial com os sete animes que mais mereceram atenção nesta estação.
7. To Be Hero X
Quem diria que To Be Hero X se tornaria um dos queridinhos da temporada? A coprodução inédita entre a japonesa Aniplex e as chinesas BeDream e bilibili abraça uma estética profundamente anime — trilha sonora do incomparável Hiroyuki Sawano incluída — a ponto de muita gente nem questionar sua origem. Disponível no Crunchyroll, esse “antologia de super-heróis” não poupa reviravoltas: abre com quatro episódios que apresentam um sistema de poder baseado em trust e uma indústria disposta a manipular narrativas para lucrar. Três estúdios dividem a animação e alternam estilos — do CG ao 2D tradicional — em transições que não deveriam funcionar, mas funcionam perfeitamente. Com um meta-enredo que se desenrola por trás dos arcos individuais, fica a expectativa de como tudo se conecta na segunda cour que estreia no verão.
6. Anne Shirley
Mesmo sem nostalgia pelos livros de Anne of Green Gables, foi impossível não me apaixonar por Anne Shirley. A atmosfera tranquila, os cenários em tons pastel que parecem pinturas e o carisma contagiante da jovem ruiva de Avonlea formam um abraço reconfortante. Esta é a típica série “manta quentinha” — baixa intensidade, alto aconchego — que convida o espectador a entrar em Green Gables e deixar o mundo lá fora. Melhor ainda: a adaptação está apenas na metade, restando mais doze episódios para nos aquecer nas próximas semanas.
5. The Apothecary Diaries Season 2
Se o primeiro semestre trouxe a hilária dúvida “Sapo ou Testículos?”, o segundo entregou o arco que eu mais temia — e fez isso com maestria. A nova cour explora traumas gerados por um imperador pedófilo cujos crimes atravessam gerações. Victimização, revitimização e cicatrizes históricas se entrelaçam sem hierarquia de dor: todos sofrem, cada um à sua maneira. Paralelamente, Maomao observa como a vida no palácio reduz mulheres a peças de xadrez. The Apothecary Diaries não é fácil de assistir, mas é impossível desviar o olhar — sempre há uma fagulha de esperança entre camadas de crueldade.
4. Rock is a Lady's Modesty
À primeira vista, é só um grupo de colegiais refinadas que montam uma banda de rock clandestina. Na prática, Rock is a Lady's Modesty fala sobre expectativas sufocantes. Lilisa renega suas raízes para agradar a mãe; Tina vive um papel de príncipe tomboy imposto por todos à sua volta. Só o rock — com trilha vibrante e cenas de performance capturadas pelo BAND-MAID — dá a liberdade que elas negam a si mesmas. Entre riffs de guitarra e insultos dignos de Panty & Stocking, é um coming-of-age tão engraçado quanto catártico.
3. Apocalypse Hotel
Ficção científica boa usa impossibilidades para refletir o presente, e Apocalypse Hotel faz isso com humor ácido e muita sensibilidade. Yachiyo administra um hotel quase vazio num planeta pós-humano, até que alienígenas tanuki bagunçam seu sossego. A série salta décadas entre episódios, mostrando clientes crescerem, casarem e envelhecerem enquanto robôs neuróticos tentam manter a ordem. A direção de estreia de Kana Shundo e a animação da Cygames Pictures entregam um espetáculo visual que equilibra gargalhadas e melancolia — um dos meus favoritos do ano.
2. Mobile Suit Gundam GQuuuuuuX
Imagine Char conquistando o Gundam em vez de Amuro — eis o ponto de partida de GQuuuuuuX. Com Anno, Tsurumaki e Enokido soltando toda a nerdice em referências ao Universal Century, o enredo corre a mil: de lutas clandestinas a física de multiverso, quase sem pausas para explicações. A troca temporária do comentário bélico típico da franquia por uma trama sci-fi densa pode estranhar, mas ainda sobra espaço para discutir refugiados e alertar que “Nazi estilosa ainda é Nazi”. É bagunçado? É. Ambicioso? Muito. E eu não consigo parar de pensar nele.
1. Kowloon Generic Romance
Nostalgia não é mais como antigamente. Adaptando o mangá hipnótico de Jun Mayuzuki, Kowloon Generic Romance nos mergulha em uma réplica (ou seria o original?) da Cidade Murada de Kowloon, onde tudo gira em torno de lembranças. Difícil comentar sem spoilers: parte do prazer está em decifrar camadas de mistério psicológico dignas de séries como Severance. O anime celebra o passado — moda, fumaça de cigarro, música —, mas logo mostra as rachaduras desse “jardim murado”. Personagens como Yaomay, Xiaohei e o garçom Gwen enriquecem um thriller que valoriza momentos íntimos: um cigarro inaugural, a primeira mordida de melancia em dia de calor. É o tipo de obra que faz você saborear pequenos instantes depois de cada episódio.