Your Forma – Episódio 10: IA pós-morte, drama de Harold e protagonismo apagado

Echika continua figurante

Bastou Echika aparecer para o episódio perder a chama acesa na semana passada. Embora seu design sugerisse personalidade, a protagonista mais uma vez atravessa a história como espectadora de luxo — fingindo desinteresse por Harold e pouco influenciando a investigação. Retirá-la de cena não mudaria quase nada, um sinal de que o roteiro ainda não sabe o que fazer com ela.

Feridas abertas no passado de Harold

Do outro lado, o enredo de Harold segue intrigando. Dois anos e meio após o pesadelo de São Petersburgo, o Amicus visita a família do falecido detetive Sozon, carregando no corpo o casaco do antigo parceiro. A recepção é amarga: a mãe de Sozon o discrimina como “coisa” incapaz de proteger seu filho. O choque expõe a dor não resolvida de ambos e ressalta os limites programados que impedem Harold de revidar — uma tragédia que o uniforme emprestado só torna mais palpável.

Casamentos humano-Amicus e outras faíscas não exploradas

Num breve desvio, a série apresenta um casamento entre uma executiva e seu droid feito sob medida. Bigga, agora consultora oficial da polícia, vê ali esperança para seu crush declarado em Harold. É um prato cheio para debates sobre ética, direitos civis e afetividade pós-humana, mas o roteiro toca no tema apenas de passagem, logo voltando aos procedimentos de sempre.

IA pós-morte: um espelho Black Mirror

A trama principal investiga o roubo da mente digitalizada de Sozon — sim, uma cópia em disco do policial morto. A premissa carrega pavor existencial digno de Black Mirror, mas o episódio encara o assunto com espantosa normalidade. Quando a voz de Sozon telefona da tumba, personagens reagem mais com espanto técnico do que horror moral, deixando para depois (talvez) as perguntas sobre identidade, consentimento e manipulação de dados póstumos.

Veredito: potencial perdido em cinza

Com direção apática, paleta engessada em tons de concreto e personagens fora de modelo, Your Forma volta ao piloto automático. Há faíscas de um grande thriller filosófico — o luto de Harold, o flerte de Bigga com a fronteira homem-máquina, o terror de viver para sempre em servidores corporativos —, mas todas ficam à margem. Se a série não der logo protagonismo às próprias ideias, corre o risco de fossilizar-se antes da conclusão.

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