Dusk Beyond the End of the World: episódios 0 a 3 exploram um mundo intrigante, mas tropeçam na execução

Fico curioso para saber quantos escolheram acompanhar Dusk Beyond the End of the World porque realmente estão gostando da série, e quantos o fizeram apenas para assistir alguém tentar analisar um anime com toques de pseudo-incesto e ficção científica pós-apocalíptica. Seja qual for o motivo, o fato é que Dusk acabou garantindo espaço entre as produções comentadas semanalmente — e, ironias à parte, o resultado é uma obra que divide opiniões desde o início.

A história se passa em um mundo dominado pela natureza após uma grande catástrofe, e embora o gênero apocalíptico ainda não tenha saturado tanto quanto os animes de isekai, é inegável que o tema tem se tornado recorrente nos últimos anos. Produções como Zom 100, Train to the End of the World, Apocalypse Hotel e Touring After the Apocalypse exploram variações desse mesmo cenário — civilizações em ruínas, memórias do passado e um planeta que tenta renascer. Dentro desse contexto, Dusk até consegue manter certo frescor graças ao mistério político e ao visual imersivo.

Um mundo em ruínas e segredos sombrios

O maior trunfo de Dusk até agora está na conspiração que começa a se formar. Há indícios de que a organização OWEL atua ativamente para suprimir informações sobre o passado — um detalhe que coloca o protagonista Akira diretamente em perigo. Após despertar de um sono criogênico de mais de 200 anos, ele se torna alvo por “saber demais”, mesmo sem compreender o que realmente aconteceu desde então. O simples fato de uma entidade poderosa tentar apagar a história já é, por si só, um sinal claro de alerta — e esse tipo de trama política sempre adiciona camadas interessantes ao enredo.

Visual impressionante e atmosfera melancólica

A produção também é um ponto positivo. A animação é fluida, com cenas de ação bem construídas e um visual que mescla a beleza da natureza em recuperação com a solidão de um mundo despovoado. O elenco de voz inclui nomes de peso como Yui Ishikawa, Ami Koshimizu e Takehito Koyasu, que entregam atuações consistentes. A trilha sonora de abertura, embora não agrade a todos os gostos, combina com o tom etéreo e melancólico da série.

Problemas de ritmo e personagens sem química

Infelizmente, o que realmente enfraquece Dusk é o desenvolvimento de seus protagonistas. Akira passa boa parte dos episódios apenas tentando encontrar sua irmã adotiva, Towasa, acompanhado de uma androide idêntica a ela — que, além de tudo, quer se casar com ele. O problema não é apenas a estranheza do conceito, mas também a falta total de química entre os dois. Akira é um protagonista sem brilho, e Towasa, mesmo como androide, não demonstra qualquer profundidade emocional. O romance central, portanto, não convence.

O tema incômodo: o pseudo-incesto

É impossível falar de Dusk sem mencionar o tema mais polêmico da série: a relação incestuosa. Akira e Towasa são irmãos adotivos, enquanto outros personagens, como Fides e Kalcrom, são irmãos biológicos e também dividem uma tensão romântica. Esse tipo de abordagem já apareceu em outros animes — como Vampire Knight —, mas aqui o incômodo é agravado pela falta de propósito narrativo. Tudo parece gratuito, sem justificativa emocional ou simbólica que sustente o tema.

Casamento, identidade e possíveis caminhos

Curiosamente, Dusk apresenta um conceito interessante: no mundo pós-apocalíptico da série, o casamento é chamado de “ehlsea-ing”, e pode envolver uniões homo, hétero ou poliamorosas. Essa normalização cultural poderia render discussões ricas sobre identidade, afeto e estrutura social — mas, até o momento, o anime apenas toca nesses assuntos sem realmente explorá-los. Se a obra tiver coragem de desenvolver esse lado, poderá se redimir parcialmente.

Um começo com potencial, mas sem gancho

No fim, Dusk Beyond the End of the World tem ideias promissoras e uma ambientação interessante, mas falta um elemento que prenda o espectador. O ritmo irregular e o foco em um romance sem vida acabam tirando força de um universo que poderia ser fascinante. Ainda há tempo para melhorar, mas por enquanto, a série entrega apenas um sólido “mais ou menos”.

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