Voltar para a história de To Your Eternity depois de tantos anos tem sido uma experiência intensa. As duas primeiras temporadas apresentaram momentos belíssimos, cheios de humanidade, dor e reflexões sobre a vida e a perda. No entanto, muitos desses instantes acabaram ofuscados por problemas de produção vindos de diferentes estúdios e equipes criativas. Fushi, a misteriosa “entidade-orbe”, sempre foi um protagonista que exigia um toque de sensibilidade e consistência visual que os estúdios Brain’s Base e Drive não conseguiram manter ao longo dos 40 episódios anteriores.
A segunda temporada, lançada em 2022, teve uma queda tão acentuada que eu sequer consegui terminar minha cobertura semanal na época. Achei que talvez um dia revisitaria a história no mangá. Mas, contrariando as expectativas, Fushi e companhia estão de volta. E, para minha surpresa, este retorno está sendo bem mais inspirador do que imaginei.
Um novo começo para Fushi e para a produção
Após a grande batalha contra a ameaça dos Nokkers, Fushi passou séculos em hibernação, espalhando suas raízes pelo mundo e observando a paz que ajudou a construir. Agora, o protagonista desperta em um novo tempo, preparado para reencontrar aqueles que um dia amou. Da mesma forma, a produção também renasce: sob direção de Kiyoko Sayama e co-direção de Sōta Yokote, com o reforço do estúdio Massket, a série parece finalmente ter encontrado um novo equilíbrio.
Os três primeiros episódios mostram uma melhora visível. Mesmo que a animação ainda não atinja o brilho cinematográfico do primeiro episódio da série lá em 2021, a nova temporada se sustenta com visuais limpos e uma narrativa envolvente. A ambientação moderna também ajuda — em vez de castelos e florestas míticas, agora temos um mundo mais próximo do nosso, com escolas, cidades e dramas humanos mais tangíveis.
O peso do passado e a força do recomeço
Um dos maiores encantos deste retorno está em reencontrar personagens que marcaram a jornada de Fushi. March, Rean, Gugu, Tonari, Bon e tantos outros estão de volta, renascidos em novas vidas, e é comovente vê-los novamente, mesmo que suas lembranças estejam confusas. Essa nova era é um recomeço não apenas para Fushi, mas também para todos que o acompanharam em suas perdas e descobertas.
Contudo, toda história precisa de conflito — e o de To Your Eternity continua sendo profundamente humano. O episódio 3, intitulado “Mizuha”, apresenta a nova encarnação de uma alma marcada pelo destino: a de Hayase. No passado, Hayase foi o reflexo mais distorcido de Fushi — uma guerreira obcecada que entregou a própria humanidade aos Nokkers em busca de poder e eternidade. Agora, renascida como Mizuha, ela luta para se libertar das correntes do passado, mas sua alma ainda carrega as manchas da violência e da culpa.
O ciclo se repete — e a dor também
Mizuha é incapaz de criar os laços que tornam Fushi humano, e isso acaba sendo o estopim para a nova jornada. Sua melhor amiga, Hanna — dublada por Aya Uchida, a mesma voz de Parona na primeira temporada — adiciona um paralelo interessante. A relação entre Mizuha e Hanna ecoa o vínculo de Parona e Hayase de mil anos atrás, mas desta vez o destino parece repetir o mesmo ciclo de tragédia.
Quando Mizuha descobre a verdade sobre sua linhagem e se vê coberta pelo sangue da própria mãe, a série retorna ao tom melancólico e simbólico que sempre definiu To Your Eternity. Fushi e seus companheiros agora precisam decidir se estão prontos para enfrentar novamente o peso do passado — e o que significa, de fato, viver para sempre.
No fim, todos receberam uma nova chance. Todos, menos Hayase. Presa em um ciclo interminável de amor e obsessão, ela continua implorando para que o orbe a salve. E talvez, dessa vez, o preço da eternidade seja mais alto do que nunca.
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