Apocalypse Hotel – Ep. 8: Yachiyo entre frustração, tanques e renascimentos

Há algumas semanas, Yachiyo declarou admirar a capacidade de mudar. No episódio 8 de Apocalypse Hotel, ela é forçada a confrontar o que essa palavra realmente significa — e as respostas vêm acompanhadas de dor, transformação física e uma dose generosa de caos emocional. A série, como sempre, avança com sua narrativa imprevisível, oferecendo mais uma experiência que desafia qualquer tentativa de categorização simples.

A mudança não é apenas um tema — é a espinha dorsal da série. Seja pela filosofia do mono no aware, seja pelas constantes reviravoltas narrativas, Apocalypse Hotel nunca permanece estático. O episódio desta semana poderia ter explorado, por exemplo, a transformação do Gingarou após o desaparecimento de Yachiyo. Mas em vez disso, esse momento é omitido de propósito — deixando ao espectador a tarefa de juntar pistas visuais e contextuais sobre o novo rumo do hotel.

Sob o comando interino de Ponko, o Gingarou se tornou mais defensivo e militarizado. A série levanta questões sobre hospitalidade versus segurança, utopia versus sobrevivência — mas sem respondê-las diretamente. Ainda assim, há valor em levantar a pergunta, mesmo que a resposta nunca chegue. Apocalypse Hotel não perde tempo sendo didático. Prefere correr entre ideias com energia criativa absurda e direção competente, provando que há método no caos.

O corpo novo e o velho eu

O foco do episódio, no entanto, está em Yachiyo. Após retornar do espaço, ela acorda com um corpo modificado: pernas substituídas por tanques, mãos trocadas por garras. Metáforas óbvias para deficiência física e adaptação, as mudanças são tratadas com um equilíbrio raro entre humor, empatia e crítica social. Não é o corpo que gera piada — é a persistência de Yachiyo em tentar se encaixar numa rotina que já não lhe serve.

Dois momentos capturam isso com perfeição. Primeiro, quando ela tenta retomar o posto na recepção, mas suas esteiras não passam pela entrada. Ela se joga no chão, tenta rastejar até a mesa e, após falhar, pede desculpas ao Flycatcher Robot. É engraçado, mas também dolorosamente humano. Depois, quando não consegue mais segurar uma caneta, entra em colapso e literalmente incendeia as ruas de Tóquio. É um surto totalmente compreensível, enraizado no acúmulo de frustrações silenciosas.

Amor, guerra e shampoo hats

Tudo culmina em um embate entre Yachiyo e Ponko que mistura luta de mechas com sessão de terapia. Visualmente marcante (saudações ao visual greaser de Yachiyo e ao mecha robusto de Ponko), a cena brilha pelo que tem de mais importante: emoção. Em meio à destruição e aos gritos, vemos duas figuras tentando entender o quanto significam uma para a outra. Yachiyo sempre se definiu pelo seu trabalho; Ponko a ajuda a perceber que seu valor vai muito além disso.

E como se não bastasse, somos apresentados à versão adulta de Ponko — acompanhada de um possível namorado dublado por Natsuki Hanae. A essa altura, cronologia e lógica já não importam tanto quanto sentimento e símbolo. Se a nova aparência alimenta os sonhos dos shippers de Yachiyo/Ponko, quem somos nós para julgar? Especialmente em uma série que termina com uma estátua gigante da Yachiyo como novo ponto turístico do hotel.

Um último detalhe brilhante: Yachiyo, que antes não conseguia escrever com sua garra, aparece fazendo isso normalmente na cena final. Não há destaque, nem discurso de superação. É um gesto silencioso que reforça a verdadeira lição do episódio — o valor de existir não está em ser útil, mas em ser. E isso, em um anime que parece enlouquecido na superfície, é uma mensagem de rara beleza.

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