Anne Shirley episódio 10 – A morte de Matthew e a escolha de permanecer

Um amanhecer comum que vira tragédia

O capítulo abre com a rotina pacata de Green Gables: Matthew lendo o jornal, Marilla separando contas, Anne organizando-se para mais um dia de estudos. Tudo muda em segundos — Matthew sente o peito apertar, cai da cadeira e a página do jornal se espalha pelo chão. A animação escolhe não dramatizar com trilha estrondosa; a naturalidade do colapso faz o golpe ser ainda mais cruel, espelhando o texto de L. M. Montgomery em “The Reaper Whose Name Is Death”.

Os ritos de despedida: vigília, cortejo e luto

De madrugada, o corpo de Matthew já repousa no caixão instalado na sala de visitas, prática comum na Ilha do Príncipe Eduardo do final do século XIX. A câmera percorre o quarto iluminado por lamparinas, detendo-se no carpete florido e no rosto sereno do falecido. Anne chora convulsivamente, mas Marilla assume o papel de pilar — até Rachel Lynde chegar para providenciar flores, chá forte e palavras práticas. O cortejo fúnebre traz um hearse puxado por cavalos negros; moradores se alinham na estrada, tirando chapéus em respeito.

Marilla entre a venda de Green Gables e a cegueira que avança

No dia seguinte, sozinha na cozinha, Marilla desenrola contas e calcula mentalmente se conseguirá manter a fazenda. Sua visão turva torna impossível manipular a delicada colheita de morangos que garante parte da renda anual. A dublagem coloca hesitação na voz — não é só luto, é medo do futuro sem Matthew para arar os campos.

Anne em processo de aceitação

O roteiro insere Mrs. Allan para guiar a garota pelo processo de luto: “Chorar não é fraqueza; é abrir espaço para o amor que ainda sobra”. Anne absorve o conselho e planta um ramo de rosas brancas próximo ao curral. O símbolo não existe para colorir a cena: é referência direta ao capítulo 40 do romance original, onde flores marcam a presença eterna de quem partiu.

Gilbert Blythe, o amigo silencioso

Enquanto Anne se isola, Gilbert visita Green Gables vestido de preto discreto. Ele não ousa entrar; deixa um pequeno envelope na varanda e parte. Dentro, Anne encontra um recorte de jornal anunciando uma vaga de professor na escola de Avonlea — e então descobre que Gilbert declinou da posição para que ela pudesse ensinar e, assim, permanecer perto de Marilla. São poucos segundos de tela, mas suficientes para estabelecer a grandeza de caráter de Blythe.

A decisão de permanecer: o amor que se escolhe

Quando a carta de aceitação da universidade chega, Anne passa a noite em claro. Lembra-se de Matthew dizendo que “os sonhos são viagens que valem o preço da passagem”. Mas lembra, também, de Marilla tropeçando na cozinha de manhã. Ao amanhecer, decide: recusará a bolsa e ficará na ilha para lecionar. Não se trata de altruísmo puro; é fidelidade ao vínculo que salvou sua vida aos 11 anos. A adaptação deixa claro: é escolha consciente, não sacrifício sem reflexão.

Leitura de “Pippa’s Song” e a frase que encerra o ciclo

No crepúsculo, Anne senta-se à beira da janela e lê para Marilla o poema de Robert Browning, já citado no episódio 5. A última linha — “God’s in His Heaven, all’s right with the world” — ecoa, não como negação da dor, mas como esperança teimosa de que a vida, mesmo ferida, segue adiante. O episódio adapta o final do primeiro livro quase palavra por palavra, fechando o arco de “Anne of Green Gables” e preparando terreno para “Anne of Avonlea”.

Reflexões finais

  • Fidelidade emocional – A série mantém o impacto do texto original sem recorrer a melodrama exagerado.
  • Tempos de silêncio – Longos planos sem diálogos durante o velório permitem que a tristeza respire.
  • Plantio da rosa – Pequeno gesto que simboliza raízes, legado e a flor que sobrevive ao inverno.

Matthew partiu, mas Green Gables continua. E, com ela, a história de uma órfã que encontrou família, perdeu um pai de coração e escolheu retribuir a bondade ficando — por enquanto — onde pertence.

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