Black Butler episódio 10 – Sebastian incendeia o tanque e muda o rumo da guerra

História maleável: 1889 ou pré-Primeira Guerra?

Yana Toboso nunca escondeu que, ao começar Black Butler, mal sabia diferenciar um chá vitoriano de um bule eduardiano. De lá para cá, a autora vem afinando a pesquisa e, nesta temporada, utiliza essa elasticidade histórica como recurso narrativo: tanques e gás mostarda aparecem vinte e cinco anos antes de 1914… e são destruídos pelo mordomo demoníaco antes que o mundo possa registrá-los. A mensagem implícita? A tecnologia existiu — mas precisou ser redescoberta porque Sebastian literalmente apagou suas pegadas.

O tanque-forno e a releitura de “Hansel & Gretel”

Quando Sebastian encara o protótipo alemão, chama-o de “forno”. Primeiro, isso provoca uma inquietação anacrônica (memórias de um outro conflito mundial), mas logo faz sentido como metáfora de conto de fadas: tal qual Gretel empurra a bruxa para dentro do fogo, o mordomo empurra a “bruxa” Anne e seus comparsas para dentro do próprio monstro de metal. Witches, na visão externa, devem arder — e Sebastian, executor do contrato de Ciel, cumpre o script com prazer felino.

Wolfram: de lobo cruel a cão leal

O capítulo vira ao mostrar que o verdadeiro “lobo mau” talvez seja apenas um guardião enganado. Ao perceber que o alto-comando jamais planejou poupar Sieglinde, Wolfram abandona o front para procurá-la. É a quebra do arquétipo: não é o predador caçando a donzela, e sim o cão de guarda correndo para salvá-la dos próprios humanos que juraram protegê-la. Se sobreviver e cruzar caminho com o Conde Phantomhive, Wolfram pode tornar-se aliado improvável — e isso adiciona tensão ao arco.

Ceifadores em serviço: Sascha e Ludger

No clímax, dois grim reapers cruzam a chuva de destroços empunhando pranchetas luminosas. Apenas o nome de Anne recebe carimbo oficial de óbito. O detalhe sugere que outros corpos no tanque podem reaparecer, reforçando o suspense. Também lembra ao espectador que a contagem de almas não depende só de pólvora — mas de burocratas sobrenaturais que, doravante, podem interferir nos planos de Sebastian.

Execução visual e climática

  • Animação: fluidos detalhados de óleo e vapor quando o tanque racha; movimentos felinos de Sebastian arrancando chapas de aço com a elegância de quem serve chá.
  • Fotografia: paleta verde-acastanhada resgata atmosfera de trincheira antes mesmo da Grande Guerra existir.
  • Trilha sonora: harpa suave nos velórios improvisados, rompendo abruptamente para metais dissonantes ao primeiro golpe do mordomo.

Por que este “episódio de preparação” não soa vazio

Mesmo com uma abertura de cinco minutos de recapitulação — recurso usado pela temporada para poupar orçamento e dilatar tensão —, o roteiro entrega momentos que repercutem:

  1. Sebastian retira as armas do tabuleiro, atrasando o avanço bélico alemão.
  2. Wolfram questiona sua missão, humanizando um antagonista.
  3. Sascha e Ludger estreiam, estabelecendo nova camada de conflito metafísico.

O embate direto com Sieglinde, a fuga (ou captura) de Wolfram e a eventual recompensa de Ciel pela destruição do protótipo ficam para os próximos capítulos. Entretanto, ver Sebastian “limpando a bagunça” com sorriso diabólico lembra por que seguimos essa história há tantos anos: poucas séries misturam elegância, terror e humor cínico com tamanha maestria.

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